Fotografia mostra estudantes de Artes Visuais em cerimônia de formatura

Pioneirismo e reconhecimento: 16 anos de Licenciatura em Artes Visuais EaD na UFG

Docentes comentam sobre os desafios e aprendizados ao longo dos anos de oferta do curso na universidade

Fotografia mostra estudantes de Artes Visuais em cerimônia de formatura

Foto: Primeira formatura do curso de Artes Visuais EaD em 2012 - Secom/UFG
Texto: Yanca Cristina - CIAR/UFG

A Faculdade de Artes Visuais (FAV) foi uma das unidades acadêmicas pioneiras no exercício da educação a distância, não somente no centro-oeste, como a nível nacional. Essa história iniciou em junho de 2006, quando a Universidade Federal de Goiás (UFG) se vinculou ao programa da Universidade Aberta do Brasil (UAB) a partir do Edital de Seleção n. 01/2005-SEED/MEC, autorizado pela Portaria 873-MEC. Em 2007, mais de 200 vagas foram oferecidas na primeira oferta do curso de Licenciatura em Artes Visuais EaD. Os polos de apoio presencial eram Alexânia, Alto Paraíso, Aparecida de Goiânia, Catalão, Cezarina, Formosa, Goianésia, São Simão e Uruana.

Após isso, houve ofertas de 2007 a agosto de 2023, por meio de outros dois programas, além da UAB, o Pró-Licenciatura e o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). A experiência adquirida ao longo dos anos, garantiu à licenciatura nota máxima pelo Ministério da Educação (MEC), considerando a organização didático-pedagógica, infraestrutura e corpo docente do curso. No total, foram formados mais de 560 professores de artes visuais.

Tabela mostra o histórico da Licenciatura em Artes Visuais EaD na UFG.
Dados relativos às ofertas da Licenciatura em Artes Visuais EaD.

 

Desafios e conquistas

As professoras Leda Guimarães, Lilian Ucker, Noeli Batista e Valéria Ferreira estiveram presentes no início do que viria a se tornar uma referência de EaD na instituição. Embora fosse uma atuação inovadora para a época, os desafios eram numerosos. O primeiro deles, o qual persiste até os dias atuais, refere-se a desconfiança com a modalidade de ensino. Em um cenário novo e inexplorado, a docência precisou modificar os seus parâmetros no processo de ensino-aprendizagem para atender as demandas que surgiam conforme mais alunos eram formados.

“A coordenação também enfrentava um acúmulo de responsabilidades da gestão pedagógica, financeira e ainda, era responsável pela articulação da FAV com instâncias superiores a UFG, bem como o MEC e a CAPES, além das negociações com os municípios dos polos onde os cursos eram ofertados. Enquanto professoras, fomos aprendendo a atuar de outra forma, mas, a partir da experiência que já tínhamos construído no formato presencial”, destaca Leda.

Nessa perspectiva desafiadora, o acesso à internet e o uso das tecnologias eram algumas das problemáticas enfrentadas. O corpo discente era diversificado entre pessoas já formadas e aquelas que viviam a sua primeira oportunidade de graduação graças a educação a distância. No interior do estado, as chuvas constantes impediam os alunos de participarem das aulas. O apoio dos polos presenciais foi essencial nessa etapa, ao possibilitarem que muitos estudantes pudessem ter um espaço com energia, internet e computadores.

Segundo Noeli, os materiais digitais eram escassos, quase inexistentes. A documentação de estágio era enviada de forma impressa pelos correios, realidade essa, que só foi modificada na pandemia. Por outro lado, a locomoção até os polos também era um desafio superado coletivamente. Lilian relembra das vezes em que juntaram inúmeros carros na porta da faculdade para conseguir atender todos os envolvidos no projeto de formação.

Embora os problemas e a desconfiança existissem, nessa época, a unidade já desenvolvia uma EaD própria, socialmente referenciada e com processos pedagógicos estruturados. Olhando para trás, Noeli considera que o maior triunfo do curso foi conseguir formar pessoas diversas, em sua maioria, mulheres e acima dos trinta anos. De acordo com a professora, a formação possibilitou que muitas delas conquistassem a sua independência financeira. Desse modo, o curso atuou como uma oportunidade de realização pessoal e impactou positivamente inúmeras estudantes.

Para Valéria, outra conquista da formação diz respeito a democratização do ensino ao “acolher pessoas que não fariam uma graduação se não fosse por essa oportunidade”. Com isso, a universidade chegou até regiões pequenas, como o caso do município de Cavalcante, no interior de Goiás. Durante esse período, foram sendo construídas redes de recomendação a partir dos relatos de egressos e, esse impacto não se limitou ao estado, pois participaram do curso discentes de várias regiões brasileiras. Atualmente, o corpo docente da FAV possui professores formados pela EaD.

Mudanças pedagógicas

Os principais objetivos do curso incluem a integração dos profissionais de artes visuais com o contexto educacional e cultural de suas localidades, juntamente com a aplicação de tecnologias inovadoras, visando uma educação que promova a autonomia dos indivíduos e a descentralização dos conhecimentos pedagógicos, artísticos e culturais.

No entanto, para atingir esses ideais, o processo foi longo e de muita experimentação. Noeli relata que a principal questão dos anos inicias era “como construir um diálogo sem a presença física?”. Desse modo, foi necessário utilizar estratégias para subverter as dificuldades de comunicação. A partir de recursos de áudio e vídeos, os quais eram gravados em CD e enviados aos polos, as docentes conseguiam estabelecer um vínculo efetivo com os estudantes.

Além disso, Lilian pontua que as atividades presenciais eram as principais articulações usadas para criar laços entre coordenação, professores, tutores e alunos. “Os desafios trouxeram possibilidades para experimentações e criação de projetos que suplantassem barreiras. Fomos aprendendo juntas como dialogar, mediar e propor no espaço da plataforma Moodle, utilizada para a oferta dos cursos EaD pela UFG. Por outro lado, não podemos esquecer da força que os encontros presenciais tiveram no percurso dessas aprendizagens”, completa Leda.

A respeito das mudanças na dinâmica didático-pedagógica, Valéria entende que cada turma exigia uma atenção especial. Para Noeli, os aprendizados foram construídos coletivamente, pois na EaD, “a docência é uma experiência compartilhada”. Dessa forma, o curso foi capaz de romper as barreiras geográficas e levar a educação a distância a um novo patamar. No decorrer desses dezesseis anos de trajetória, as professoras acompanharam de perto o financiamento externo diminuindo gradativamente e o surgimento de uma nova forma de ensino.

Institucionalização

As discussões de institucionalização foram iniciadas em 2020, na pandemia. Conforme alegado por Valéria, o debate foi instigado pela percepção de que os alunos da modalidade a distância não possuíam os mesmos direitos de assistência estudantil, como a oportunidade de acesso a bolsas e outros auxílios. Por isso, surge a necessidade de lutar para que a UFG pudesse ofertar, a partir de recursos próprios e sem depender de fomento externo, o curso de Licenciatura em Artes Visuais EaD.

Para que o desejo se tornasse uma ação concretizada, foram necessárias muitas provações. Embora a formação já caminhasse a passos largos há anos, o processo exigiu que toda essa experiência fosse reafirmada por intermédio de um estudo de viabilidade, consultando todos os docentes presentes na unidade, o que resultou na formulação de um relatório detalhado. Por conseguinte, a iniciativa avançou e manteve contato direto com o Centro Integrado de Aprendizado em Rede (CIAR), a coordenação da FAV e com a Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD).

Em 2021, houve o início da construção do Projeto Pedagógico de Curso (PPC), todavia, a sua finalização só ocorreu no início de 2022. Nesse período, foram promovidos encontros com a Faculdade de Educação (FE) e com a Faculdade de Letras (FL), unidades que irão atuar na disciplina de Libras do curso. Somente em 24 de março de 2023 o projeto foi devidamente aprovado.

A conquista garante, a partir de 2024, autonomia na periodicidade de oferta; trinta vagas anuais; realização do processo seletivo via SISU; determinação de que o polo de apoio presencial seja a própria Faculdade de Artes Visuais, Regional Goiânia; e a ausência da figura do tutor a distância. Essa nova estrutura permite melhorias nas condições de trabalho dos professores ao equalizar suas cargas horárias.

Por fim, as expectativas são de que o curso dê continuidade a sua trajetória de formação e amplie uma nova janela de oportunidades. Assim, alimentando um ecossistema de ensino-aprendizagem para além das limitações físicas e promovendo equidade entre discentes da modalidade a distância e presencial. Todos são, sem distinções, partes essenciais na composição acadêmica e social da universidade.

“Penso que esse curso poderá fortalecer a FAV e a UFG no papel formativo e político, uma vez que a área da arte, vive a permanente ameaça a sua existência na escola e no potencial que possui na formação cidadã e cultural dos estudantes”, conclui Leda.

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