Imagem mostra os participantes do 1º Workshop do Projeto Despertar.

UFG desenvolve projeto socioeducativo em parceria com a IECAP

Iniciativa foi idealizada pela professora Marilúcia Lago da Faculdade de Educação e contará com o apoio do CIAR 

Imagem mostra os participantes do 1º Workshop do Projeto Despertar.

Texto: Yanca Cristina - CIAR/UFG
Fotos: Gusthavo Crispim - CIAR/UFG

Nesta segunda-feira, 13 de novembro, ocorreu o 1º Workshop Metodológico do Projeto Despertar. O evento marcou o início do projeto desenvolvido pela professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (FE/UFG), Marilúcia Pereira do Lago. A iniciativa “Projeto Despertar: Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais e Metodologias de Educação Empreendedora para Adolescentes do Socioeducativo” é realizada em conjunto com a Agência de Transformação Social IECAP e com recursos do Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento para Educação.

Estiveram presentes na mesa de abertura o Superintendente do Sistema Socioeducativo de Goiás, Alexandre Lourenço; a Gerente de Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Magna Regina Domingues Ferreira; a Subsecretária de Governança Institucional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (SEDS), Cássia Rodrigues de Bessa e o Diretor do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR/UFG), Wagner Bandeira.

 

Imagem mostra o Diretor do CIAR, Wagner Bandeira.
Diretor do CIAR considera participação do órgão como "um grande desafio e um grande aprendizado".

 

Durante o encontro, a Especialista na defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, Maria Leolina Couto Cunha, apresentou as especificações metodológicas do projeto. Os públicos-alvos a serem alcançados são adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa e seus familiares, gestores e profissionais dos Centros de Atendimento Socioeducativo (CASES) e gestores de políticas complementares ao socioeducativo, tais como as áreas de educação, saúde, sistema de justiça, assistência social, etc.

Objetivos

Em relação aos objetivos específicos, a intenção é capacitar gestores do socioeducativo e das políticas complementares; capacitar e integrar a equipe do projeto e a equipe multidisciplinar dos CASES para o uso das metodologias inovadoras sobre personalização das aprendizagens, desenvolvendo competências socioemocionais e educação empreendedora. Além disso, almeja estimular os adolescentes a reconhecerem suas competências empreendedoras e melhorarem suas inteligências múltiplas, qualificando-os do ponto de vista técnico, social, emocional e mental.

Outro fator relevante refere-se ao aprimoramento da oferta de formação profissional para os socioeducandos, qualificar seu desenvolvimento pleno para a cidadania e o mundo do trabalho, e ajudar a estruturar projetos de vida junto às famílias dos socioeducandos. Por fim, realizar avaliação do projeto com a geração de subsídios para o desenho de políticas públicas no contexto socioeducativo.

Atuação

Ao longo dos 18 meses de duração do projeto serão desenvolvidos cinco ciclos de atuação, sendo eles:

  1. Ciclo de alinhamento e capacitação;
  2. Ciclo de inteligências emocionais e metodologia Pré-Texts (capacitação com a professora Doris Sommer de Harvard);
  3. Ciclo de competências empreendedoras e atividades educativas;
  4. Ciclo de renovação dos vínculos familiares e engajamento comunitário;
  5. Ciclo da comunicação.

Segundo a idealizadora Marilúcia Lago, o primeiro eixo de pesquisa aspira compreender como se dão as metodologias formativas do socioeducativo. “Quais são as pedagogias que o socioeducativo e que a socioeducação utiliza no Brasil inteiro? Como se dão essas políticas? Como na unidade ou no sistema aberto, a educação conversa com o sistema de justiça e garantia de direitos, com a saúde, com a assistência social, na redução dos fatores de riscos, na promoção de novos comportamentos, no amparo à família?”, questionou a professora.

Portanto, será realizado um mapeamento do sistema socioeducativo em todo o Brasil, sublinhando principalmente as metodologias e as pedagogias utilizadas. “O projeto prevê o desenvolvimento de metodologias que fortaleçam o socioemocional dos adolescentes, a autoestima, a confiança em si, a autoimagem, a perseverança, a motivação, a capacidade de superação de dificuldades e de conflitos, desenvolvimento cognitivo, a inteligência emocional e a contenção dos impulsos”, explicou Marilúcia.

“Nós entendemos que o adolescente é um ser em desenvolvimento e que, portanto, nós podemos interferir positivamente nesse desenvolvimento, motivando-o para uma conquista da autonomia”, pontuou. O próximo eixo é a própria formação dos adolescentes. Dessa forma, o Despertar prevê oficinas de trabalho com os socioeducandos e suas famílias. Para isso, serão ofertadas oficinas de trabalho socioemocional, desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento de inteligência emocional e cursos de formação profissional.

A qualificação profissional é um dos principais pontos do sistema atual. No entanto, raramente esse processo ocorre conforme a perspectiva do adolescente, em relação ao que ele gosta de fazer e de suas potencialidades criativas. “Prevemos realizações de feiras com mostras do trabalho dos adolescentes. Prevemos também a possibilidade de um incentivo para que eles possam iniciar essas atividades. É uma tentativa de conquista de autonomia, mas isso em conjunto, adolescente e família", completou.

Gestão

O projeto foi construído para ser gerenciado por um comitê gestor. Inicialmente, serão dois comitês gestores, um para o Distrito Federal e outro para o Estado de Goiás, incluindo a coordenação do projeto, as equipes de trabalho, além de gestores do socioeducativo e das políticas complementares ao socioeducativo. Os grupos irão acompanhar a implantação, o andamento do projeto e participar do processo de formação.

A capacitação não contempla somente os profissionais que estão atuando na unidade socioeducativa, mas todos os que estão envolvidos em programas ou em políticas que fazem interface com o sistema, como os profissionais de saúde, assistência social, justiça e educação. “Esse comitê gestor faz muita diferença na perspectiva do projeto, porque implica todas essas políticas e responsáveis pela construção desse sistema, e pensa uma forma de produzir fluxos, diálogos, temas transversais, que possam integrar todas essas políticas”, afirmou a professora.

 

Imagem mostra a Profa.  Marilúcia Lago durante a mesa de abertura.
Momento de fala da Profa. Marilúcia Lago durante o evento.

 

Materiais

Apesar de ser um projeto presencial, o Despertar exige a transformação das metodologias utilizadas em instrumentos de visualização e discussão. Por isso, é necessário usufruir de tecnologias. Nesse sentido, a atuação do CIAR está atrelada à experiência do órgão em desenvolver projetos de educação social e na capacidade da equipe de produzir materiais pedagógicos.

Estão previstas gravações de vídeos educativos para o processo de formação dos profissionais, assim como a elaboração de um e-book ao final. “Nós iremos distribuir em todas as unidades do estado de Goiás e do Distrito Federal. Então, a gente utiliza o material para o processo formativo e, ao mesmo tempo, já o distribui. Ele passa a ser uma aquisição da escola que, a partir daí, utilizará essas metodologias”, explicou Marilúcia.

Expectativas

De acordo com a coordenadora do projeto, nunca algo semelhante a isso foi feito. Estão em vigor várias propostas de formação, todavia, não trabalham diretamente com o eixo profissional, adolescente, família e políticas complementares. Para a professora Marilúcia, existem duas grandes dificuldades no setor socioeducativo. A primeira, corresponde ao isolamento.

“São quatro pilares de sustentação do socioeducativo, os quais são a educação, a saúde, a assistência social e o sistema de justiça. Apesar de ser sustentado por esses quatro pilares, eles não conversam entre si. As ações são isoladas e não funcionam. A complementaridade dessas políticas é importantíssima para dar conta de reduzir os fatores de risco, de produzir proteção, de fomentar espaços mais saudáveis de desenvolvimento para esses adolescentes e fazer com que a proposta educativa do socioeducativo realmente aconteça”, declarou.

Outro fator muito importante é a possibilidade de trabalhar metodologias pedagógicas com o profissional, o adolescente e a família. Este é um grande impasse do sistema, conseguir formar vínculo com as famílias. “Sabemos que toda política é social no Brasil, principalmente a política da socioeducação, a qual é pensada na perspectiva de fortalecimento dos vínculos familiares. No entanto, não é isso que acontece na prática. Na maioria das vezes, o adolescente só vê a família na visita. E a família pouco participa desse processo educativo. Então, esse projeto visa diretamente o fortalecimento dos vínculos familiares, e, ao mesmo tempo, a busca de autonomia do adolescente”, evidenciou Marilúcia.

Dessa forma, as expectativas futuras são positivas. Sendo um projeto-piloto, ao término, haverá uma avaliação dos impactos metodológicos. Conforme o resultado, será possível pensar na possibilidade de auxiliar a educação nacional e construir meios próprios para melhorar o sistema socioeducativo.

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