
"O principal desafio para o ensino é a maneira como as universidades funcionam"
Mark Nichols defende no ESUD/CIESUD 2020 uma reformulação sistêmica das instituições de ensino

Texto: Raniê Solarevisky - CIAR/UFG
Imagem: ESUD/CIESUD 2020
Em palestra realizada na tarde de hoje (11) durante o ESUD/CIESUD 2020, o professor Mark Nichols, da Open Polytechnic da Nova Zelândia, defendeu uma ampla reestruturação dos sistemas administrativos, de ensino e de aprendizagem utilizados em universidades. "O principal desafio para o ensino é como as universidades funcionam. O problema não está no que trouxe a internet. Temos que repensar o que é ensinar", defende.
A declaração foi dada na mesa Teaching in the Digital Era: competences, challenges and perspectives com mediação do Prof. Carlos Alberto Oliveira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que também realizou a tradução.
"Todas a universidades têm uma espécie de módulo operacional, um modelo de como funcionam. Esses sistemas são profundamente imbricados na estrutura da universidade, como o sistema de matrículas. Como seria possível, por exemplo, que um estudante fizesse. Também há sistemas para aprendizagem e ensino, como o período de aula de cerca de 2h, 2 vezes por semana", enumera Nichols. "Se a universidade vai ter que trabalhar de maneira digital, precisa repensar esses sistemas. Universidades precisam repensar o que querem alcançar, qual é a visão que têm de uma universidade digital. Enquanto não fizerem isso, vão apenas transferir o que já fazem para o virtual", explica.
Competências e Desafios
Para o pesquisador, as principais competências que devem ser desenvolvidas por educadores na era digital estão ligadas a conceitos e práticas fundamentais da pedagogia. Citando várias produções e autores anteriores à massificação da internet, Nichols defende que o resgate do conceito de ensino é altamente valioso para fazer frente aos desafios da era digital.
De acordo com ele, há 3 principais desafios para o ensino digital: a manutenção de metodologias pedagógicas do ensino presencial em ambiente digital; a falta de liderança e planejamento claro em estratégias para ensino digital nas universidades; e modelo operacional da universidade, similar na maior parte das instituições de ensino superior e principal causa dos dois primeiros desafios. "Para que o ensino digital possa ser tudo o que pode ser, esse modelo precisa ser repensado na maior parte dos casos. Universidades precisam adotar uma visão para a educação digital e, provavelmente, repensar todos os seus sistemas de ensino e aprendizagem para melhor entender o que é possível", explica.
Pandemia e Mundo
Para o pesquisador, que é membro do comitê executivo do International Council for Open and Distance Education (ICDE), o problema é global. "Essa necessidade de reformulação é um desafio para universidades de todo o mundo", insistiu, diante das observações do público e do mediador sobre o sistema arcaico e burocrático de alguns processos nas universidades brasileiras.
Questionado pelo mediador e pelos presentes qual seria o futuro do uso de tecnologias digitais na educação pós-pandemia, Nichols disse acreditar que há um lado positivo em forçar as universidades a pensarem em como se adaptar à situação e o que poderiam aproveitar dessa experiência quando a pandemia estiver sob controle. No entanto, reforça que há muitas instituições que têm se iludido com a imagem de superação do problema, como se já tivessem conseguido criar novos sistemas para um contexto digital, já plenamente adaptadas a uma realidade que, na verdade, potencializa problemas anteriores.
O ESUD/CIESUD 2020 segue com extensa programação científica e cultural até a próxima sexta (13).
Source: CIAR/UFG
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