Foto mostra projeção de palestra remota concedida por Eucidio Arruda, professor da UFMG, durante o Colóquio EaD na UFG 2022.

"O ideal é não fazer distinção entre EaD e presencial, e sim tratar tudo como educação"

Eucidio Arruda relatou experiência da UFMG com 40% da carga horária em EaD em cursos presenciais

Foto mostra projeção de palestra remota concedida por Eucidio Arruda, professor da UFMG, durante o Colóquio EaD na UFG 2022.

Fotos: Gusthavo Crispim e Guilherme Mendes - CIAR/UFG
Texto: Raniê Solarevisky - CIAR/UFG

A UFG recebeu, durante o Colóquio EaD na UFG, o professor Eucidio Arruda, da Universidade Federal de Minas Gerais, para relatar a experiência da instituição com o uso de 40% da carga horária de cursos presenciais em EaD. O professor possui vasta produção sobre o tema, é autor do livro Aprendizagens e Jogos Digitais (2011) e também editor da revista Educação em Revista, com qualis A1 na última avaliação da CAPES. A palestra foi ministrada remotamente para o público presente no auditório da Biblioteca Central da UFG, no dia 24 de agosto.

Para o docente, a modalidade de educação a distância tem pela frente desafios que precisam ser enfrentados na sua oferta, com destaque para os discursos sobre a qualidade, a realização de encontros presenciais, os encargos didáticos gerados para os docentes, a produção e distribuição de materiais, o trabalho de tutoria e a formação dos agentes envolvidos.

Segundo Eucidio, o debate sobre a qualidade na modalidade não pode ser pautado pelas práticas das instituições privadas: "Em determinado momento, chegamos a ter 98% dos cursos EaD oferecidos pelas privadas -- não porque elas são as únicas capazes de oferecer as formações, mas porque as públicas deixaram de oferecê-las. Não é a modalidade per si que não possui qualidade", defende. 

Sobre a oferta de até 40% da carga horária de cursos presenciais na modalidade a distância, o docente não recomenda que essa porcentagem seja regimentada para cada disciplina em um documento como o PPC, considerando que o docente responsável por cada uma pode mudar, além da dificuldade que essa regulação traria para atualizações e adaptações de ementa ou metodologias. "Os 40% são sobre o curso, e não sobre a disciplina. Colocar no PPC qual disciplina será dada a distância enrijece muito o projeto, impedindo inovações e adaptações. Na UFMG, os tipos de disciplinas que serão oferecidos são discutidos semestralmente em cada departamento.", declarou.

"Nos sistemas acadêmicos da UFMG, há 3 tipos de disciplinas: teórica, prática, e a distância. O sistema foi adaptado para deduzir a carga horária EaD de cada curso a cada inserção de uma disciplina EaD no sistema", relata. Com essa programação, o sistema evita a ocorrência de incongruências sobre o uso da EaD, coibindo abusos ou desprezo dos potenciais da modalidade e assegurando a porcentagem máxima de 40% de EaD para o curso. 

O pesquisador também lembrou que há ações realizadas na rotina universitária fora do fluxo de disciplinas em formato a distância, bem como o impedimento de que algumas delas sejam realizadas nessa modalidade. "Na UFMG, um curso pode ter atividades em EaD que não estão necessariamente nomeadas como disciplinas, a exemplo da curricularização da extensão. Outra coisa importante é seguir o que a legislação estabelece como obrigatoriamente presenciais, como os estágios", declarou.

 

Materiais e Formação

De acordo com o pesquisador, é importante não adotar padrões universais para cursos ou atividades nessa modalidade. "Não é possível definir um número ideal de encontros presenciais a priori. Os objetivos e necessidades de cada disciplina devem guiar a formatação de cada oferta", explica. O mesmo raciocínio se aplica à produção de materiais para a EaD. "Não existe um modelo de material didático, nem a necessidade de adotar um único padrão para qualquer curso ou atividade. Pode-se discutir previamente quais são as possibilidades e finalidades", reforça.

"Outra coisa fundamental é a formação dos docentes interessados em oferecer disciplinas a distância. É preciso pensar em um tipo de oferta que ajude a consolidar esse tipo de modalidade dentro da universidade", explica. Segundo Eucidio, com a garantia de acesso a formação contínua e adequada, o ideal é que o professor seja o tutor, porque é "o sujeito que está em acompanhamento direto junto com os alunos".

Essa formação, inclusive, é que seria capaz de dar condições de autonomia ao docente no planejamento de suas disciplinas. "O principal é garantir a autonomia das instituições e das pessoas que atuam nela: são pessoas que pesquisam, que trabalham com a prática e que devem ter a liberdade de compor suas disciplinas como acharem mais adequado", ressalta.

Ao final e motivado por uma pergunta do público, o docente defendeu que a EaD não seja discutida como uma alternativa à educação em modelo presencial, advogando pela institucionalização da educação a distância. "O ideal é que a gente não faça essa distinção entre EaD e Presencial, e sim que possamos tratar tudo como educação. O que temos são ambientes fixos ou fluidos de formação. O peso institucional dado às atividades da EaD precisa ser o mesmo conferido às ações realizadas de maneira presencial. EaD e educação presencial não são concorrentes, mas apenas caminhos diferentes para atingir um mesmo objetivo", explica.

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