
Ebook explora legado de pioneiras da Ciência no Brasil
Publicação produzida em parceria entre o Instituto de Ciências Biológicas e o CIAR é direcionada à educação básica

Texto e Entrevista: Raniê Solarevisky de Jesus
Já está disponível o ebook Cientistas Brasileiras: O que elas fizeram pela ciência?, publicação produzida pelo Instituto de Ciências Biológicas em parceria com o CIAR e direcionado ao uso na educação básica. As graduandas em Ciências Biológicas Luri Braga Alonso e Luma Braga Alonso redigiram o material, sob orientação da Profª. Zilene Soares (ICB/UFG), com colaboração da discente Thainá Rodrigues Baia e da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Goiás (Adufg).
Disponível gratuitamente, o ebook é produto de um projeto de iniciação científica do curso Ciências Biológicas que selecionou e construiu perfis de cientistas com ampla atuação em suas áreas durante o século XX.
Conversamos com as autoras do projeto e você pode conferir a entrevista na íntegra logo abaixo.
CIAR - Como surgiu a ideia de produzir um material como esse? Quem são os responsáveis pela confecção?
Profa. Zilene Moreira - A ideia de produção desse material surgiu como um complemento de uma pesquisa sobre as percepções de estudantes da educação básica com relação às mulheres cientistas. Constatamos que os estudantes do Ensino Médio desconhecem cientistas brasileiros de ambos os sexos, mas desconhecem principalmente, as cientistas brasileiras. Por isso decidimos construir um material que fizesse a divulgação da ciência produzida por mulheres no Brasil. É uma forma das pessoas se aproximarem da ciência, e a partir daí confiarem mais, e vencerem esse período de obscurantismo que passamos atualmente. O material foi escrito por duas orientandas de PROLICEN, Luri Braga Alonso e Luma Braga Alonso, sob minha orientação na Licenciatura em Ciências Biológicas.
Como foi o trabalho de reunir informações sobre essas cientistas? Como escolheram as personagens?
Luma Braga - O trabalho de reunir informações sobre as cientistas foi complicado, mas de muito aprendizado. Nós escolhemos as cientistas que nasceram no século XX, procuramos diversos documentos sobre elas, entre eles entrevistas e artigos. Essas informações foram muitas vezes difíceis de encontrar, exatamente pela invisibilidade feminina na ciência. Antes disso, entramos em contato com cada uma que nós selecionamos, para que fosse autorizada a publicação sobre a sua história.
Luri Braga - O trabalho foi árduo, pesquisamos em diversos bancos de dados entrevistas, artigos, dissertações, teses, etc, que tratavam da biografia das pesquisadoras homenageadas. Queríamos homenagear mulheres de áreas diversas, que de algum modo fossem pioneiras naquela área e que tivessem nascido ao longo do século XX. Entetanto, ao conhecer a biografia de Carolina Maria de Jesus nos encantamos e achamos necessário também homenageá-la, mesmo a mesma não tendo sido uma cientista.
Segundo o CGEE, as mulheres são maioria entre os doutores formados fora do país, mas ainda têm mais dificuldade de inserção no mercado e recebem salários menores. Acha que materiais como esse podem inspirar a superação desse problema?
Profa. Zilene Moreira - Sem dúvida alguma, esse tipo de material a ser vinculado já na Educação Básica dá maior visibilidade às mulheres e traz modelos de cientistas que podem incentivar que mais meninas se interessem pela ciência. Ele busca desfazer uma visão distorcida da ciência como atividade essencialmente masculina. O e-book seria uma das ações, dentre várias possíveis, para tentar inserir a discussão sobre equidade de gênero na educação básica.
Qual o impacto que um material como esse pode ter na formação de alunos na educação básica?
Luri Braga - Acredito que ao ler esse material os alunos podem ter referências e conhecer essas pesquisadoras. Muitas vezes, os Livros Didáticos não trazem essas referências, e acreditamos ser de muita importância esse debate nas salas de aula da Educação Básica. Então, montamos esse material como um material auxiliar para introduzir esse diálogo em sala de aula.
Luma Braga - A ideia desse material foi de complementar outras pesquisas executadas pelo projeto de extensão Mulheres na Ciência - UFG, pesquisas essas que seus resultados mostraram que há pouco conhecimento por parte dos alunos sobre as mulheres cientistas brasileiras. Em uma dessas pesquisas, que teve como tema "Análise de livros didáticos de Biologia do Ensino Médio sobre a presença de cientistas mulheres", o resultado demonstrou que a mulher cientista e seus feitos estão pouco representados nos livros didáticos analisados, além de haver pouca discussão sobre gênero na educação básica. Portanto, a nossa ideia foi de criar um material paradidático que pudesse subsidiar a discussão sobre gênero na educação básica, além de ser um material de suma importância para que os jovens conheçam cientistas brasileiras tão importantes e seus magníficos feitos, e que claro, sirva de inspiração para eles seguirem carreira na área que possuírem interesse.
Uma das pioneiras escolhidas para o material é Carolina Martuscelli Bori, que dá nome à Agência Bori, focada em jornalismo científico e dirigida por mulheres. Como vê a divulgação da ciência feita por mulheres no Brasil?
Profa. Zilene Moreira - A divulgação da ciência feita por mulheres vem crescendo no Brasil. Isso é resultado do estímulo de agências de fomento, premiações, projetos institucionais de divulgação, movimentos sociais e do trabalho realizado por teóricas feministas. Mas ainda há muito a ser feito! Por exemplo, ainda há uma grande dificuldade das mulheres ocuparem as áreas chamadas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), da mesma forma continuam também subrepresentadas em cargos de chefia e postos de comando. Para mudar esse quadro é preciso iniciar a discussão sobre gênero com os pequenos, na educação básica, estimulando as meninas. Há uma pesquisa publicada em 2017 na Revista Science que aponta como os estereótipos de gênero emergem cedo, a partir dos 6 anos nas crianças. Meninas já nessa idade são levadas a acreditar que não são inteligentes o bastante para determinadas atividades, o que acaba por desencorajá-las a seguir determinadas áreas. E o papel da educação é justamente problematizar esses discursos e desfazer esses ciclos de preconceito.
Utilizar o formato de ebook em materiais como esse tem alguma vantagem? Como avalia a experiência?
Profa. Zilene Moreira - Acredito que o formato em e-book ganha mais visibilidade e facilita o acesso a qualquer a qualquer parte do país. Nesse momento, em virtude da pandemia, facilita ainda mais o acesso pelas redes sociais, e pode ser lido em qualquer momento. Eu gostei da experiência, o formato em e-book permite que se tenha uma visão geral do conteúdo, e permite acessar o texto ou a biografia com facilidade. Eu espero que os meninos e meninas ao lerem esse livro possam conhecer e até mesmo se identificar com as narrativas contadas e sejam influenciados positivamente.
Luri Braga - Acredito que a grande vantagem do material ser em formato ebook é a divulgação, pois o mesmo pode ser amplamente divulgado e acessado de modo gratuito. Gostei muito do formato de publicação pois, a plataforma se adequa aos mais variados tipos de aparelhos, podendo ser acessada de aparelhos celulares com uma qualidade muito boa. Sendo assim, esse formato de publicação se adequou perfeitamente ao que gostaríamos. Já que, nossa vontade é expandir cada vez mais o conhecimento sobre as Mulheres Cientistas Brasileiras. Agradecemos enormemente o CIAR-UFG, que realizou a publicação do trabalho de forma profissional e competente.
Luma Braga - Acredito que o formato de e-book em materiais paradidáticos possuem vantagens, pois é de fácil acesso em qualquer localidade do nosso país, assim sendo possível que um grande número de docentes utilize-o, além de ser muito mais fácil propagá-lo pelas redes sociais, para que cada vez mais estudantes e professores tenham acesso. Portanto, me agradou muito a forma de publicação do nosso trabalho, e devemos agradecimentos à CIAR-UFG, e a todo o ótimo trabalho realizado pelas partes que contribuíram para a execução desse e-book.
O CIAR oferece serviço de produção de materiais didáticos em diversos formatos para cursos, projetos educacionais, formações ampliadas e eventos por meio de sua equipe de publicação. Você pode acessar o fluxo de solicitação para esse tipo de serviço aqui.
Fonte: CIAR/UFG
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