Live discute obstáculos e soluções para pessoas com deficiência na universidade
Transmissão apresentou materiais didáticos acessíveis e experiências de uso para inclusão
Texto: Raniê Solarevisky
Imagem: Canal do CIAR/UFG no YouTube
Em transmissão realizada na última sexta (11), as pesquisadoras Ana Bandeira e Talita Serafim apresentaram produtos e experiências voltadas para a inclusão e acessibilidade no ensino. A live foi realizada pelo CIAR em parceria com o Sistema Integrado de Núcleos de Acessibilidade da UFG (Sinace) por ocasião do Setembro Verde, campanha pela valorização de ações de inclusão para pessoas com deficiência.
A coordenadora da equipe de publicação do CIAR e doutoranda em Performances Culturais na UFG, Profa. Ana Bandeira, mostrou alguns dos materiais que a equipe tem construído com a acessibilidade em mente:
Aplicativo E-Drons: produzido em parceria com uma pesquisa do Programa de Pós-graduação em Ensino da Educação Básica, o projeto tem contraste, formatação de fontes, navegação e cores pensados para facilitar o ensino de álgebra e geometria a pessoas com baixa visão.
e-SIBI: o treinamento em vídeo para usuários das Bibliotecas da UFG possui interpretação em Libras integrada à identidade e ao conteúdo do projeto. Ampliou-se as janelas pequenas do conteúdo em Libras, permitindo que fosse possível ver melhor as expressões dos intérpretes e destacando essa parte do material.
UFG Sustentável: os vídeos construídos para a campanha UFG Sustentável apresentam as interpretações na Língua Brasileira de Sinais em destaque nas peças, buscando cores na própria paleta utilizada para o projeto.
Se Inclui: os ebooks do Se Inclui foram programados de modo a facilitar a navegação utilizando leitores de tela, além de valorizar as seções de tradução em Libras, posicionando seus elementos como parte do conteúdo principal, junto ao texto. O material integra a Coleção Inclusão.
Revistas Científicas da UFG: o CIAR desenvolveu templates com recursos de acessibilidade para as revistas de programas de pós-graduação da UFG, como a descrição das imagens e o espaçamento entre os diferentes elementos do texto.
Segundo a coordenadora da equipe responsável pelos materiais didáticos, a implementação de recursos de acessibilidade passou a ser parte de todos os projetos desenvolvidos pela equipe. “A gente entende que assim contribuímos para uma cultura de acessibilidade, porque as pessoas que são videntes [pessoas que enxergam] ou que não são surdas e veem esse material conseguem perceber sua importância e seu valor”, explica Bandeira.
Relato de Experiência
O segundo bloco da transmissão foi dedicado a um relato de experiência de Tálita Serafim Azevedo, mestranda cega do Programa de Pós-graduação em Ensino da Educação Básica e pesquisadora em inclusão e acessibilidade.
A pesquisadora relata que sempre conduziu a própria formação com ajuda da mãe ou da irmã, que liam os textos das matérias da educação básica. “De repente eu chego na universidade e não era só um livro que tinha que ler: eram vários textos. De repente a gente tem que ler Saussure, ler Foucault, e minha mãe não tinha tanto conhecimento para ler aquele texto para mim, então acabava deixando de ler”, relata.
O trabalho de adaptação do Sinace permitiu que a pesquisadora tivesse contato com os materiais de estudo. Por isso, Tálita gosta de se referir à equipe do núcleo de acessibilidade como “anjos”: “Eu me apeguei a eles de uma forma tão especial... Sabe aquele amor assim, ‘cara, você tá tornando a minha vida possível, tá tornando a minha vida acadêmica possível’”. A pesquisadora começou a estudar linguística no mestrado, mas mudou de foco quando conheceu os estudos sobre inclusão.
“Um dia, assistindo uma palestra da Prof. Vanessa [Santana] falando sobre os trabalhos dela, que ela se especializou e foi para essa área da inclusão, pensei ‘eu quero ser igual a você’. Porque eu senti que eu não estava sozinha, que eu tinha o apoio de alguém e que eu poderia abrir portas para outras pessoas a partir do momento em que começasse a falar da inclusão e da importância da acessibilidade”, diz.
Fazer parte
Tálita também destacou que a descrição das imagens e dos links e o cuidado com o planejamento do material permite alcançar várias pessoas. “Nesse período de isolamento, os livros estão trancados nas bibliotecas. A gente não tem a opção do mouse para navegar no computador. A gente precisa usar as setinhas. E até achar onde é para clicar... Aí você chega em um link e tem um link dentro de outro link, você fica perdida”, relata.
“E eu percebi esse diferencial no trabalho do CIAR. Tinha o nome do link, como ‘voltar ao topo da página’. Tinha o nome do livro para acessar. Na apresentação da coleção do Se Inclui [por exemplo], tava lá falando as cores dos livros – e eu [conseguia reconhecer]: ah, o livro roxo! O lilás! O verde! Então eu estou me apropriando dessa linguagem porque eu tive essa informação”, explica.
A pesquisadora fez um apelo para que profissionais de todas as áreas passem a se preocupar mais com o acesso de todas as pessoas aos seus próprios trabalhos.“Todos esses trabalhos são muito importantes, porque a sensação que eu tenho é que eu faço parte desse mundo também. E para fazer parte desse mundo, eu preciso de você”, concluiu, emocionada.
Assista à transmissão na íntegra logo abaixo, com mediação da diretora do Sinace, Ana Claudia Antonio.
Source: CIAR/UFG
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